7 de setembro: O que tem para comemorar?

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    As datas oficiais, postas pelo Estado, expressam uma simbologia reivindicada pela elite, e não das lutas do povo – quando surgem das reivindicações populares, acabam sendo apropriadas e difundidas com outra conotação e “importância” histórica e social. No dia 07 de setembro de 1822, o que se comemora é a vitória de um projeto de independência conservador, liderado pela elite do Brasil, que temiam que com a volta de D. João VI a Portugal- ocasionado pela Revolução Liberal do Porto – as terras do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, voltasse a ser simplesmente uma colônia, status que manteve até a chegada da família real em 1808. A resposta para isso foi apoiar uma monarquia dirigida por D. Pedro I, que dava autonomia as autoridades militares nacionais e a elite, fortalecendo um projeto que excluía o povo e mantinha a estrutura de privilégios de uma minoria em detrimento do sofrimento de uma maioria. Isso pode ser chamado de independência? O que temos para comemorar?

A tal Independência e o Estado de Mato Grosso

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    Na região que vivemos, aprofundou-se uma disputa pelo poder entre Vila Bela da Santíssima Trindade e Cuiabá, a Província do Mato Grosso estava dividida. E essa divisão de qualquer forma privilegiava somente a elite. Os mais pobres, os escravos, os índios, assistiram a todo esse processo como coadjuvantes, sabem por quê? Por que aos de baixo a luta dos de cima não é significativa, pois ao final, tem como único objetivo a manutenção de privilégios e sua permanência no poder.

    No Brasil e em Mato Grosso, essa data deve ser lembrada como a independência das ELITES e em nada representa a luta do POVO. Aos oprimidos convidamos a rememorar a resistência a partir da história do Mato Grosso. Reivindicamos a luta dos Paiaguás e dos Guaicurus, exemplos da resistência contra a dominação dos bandeirantes que chegaram no atual Estado e tinham como objetivo tirar a liberdade dos povos que aqui habitavam.

    Da reação dos dominados, lembremo-nos dos quilombos do Piolho onde viviam juntos negros, índios e crioulos. Chamamos hoje a nossas lembranças o quilombo de Cansanção que durante tempos se organizou com o intuito de resistir à dominação. Repudiamos a ideia do agronegócio que baseada somente no lucro, continua a matar e a roubar, baseado no discurso de progresso, assim como essa independência pregada pela elite, o Estado de Mato Grosso tem sofrido com a pressão dos mais ricos, que querem criar uma identidade a partir do agronegócio. Nossas raízes são de luta e não de servos do opressor.

    No Mato Grosso, o processo de colonização deu-se primeiro no Estado Novo com a chamada “Marcha para o Oeste” sob a ditadura getulista. Na década de 1960, para tirar o foco de um projeto de Reforma Agrária, Mato Grosso foi entregue para as colonizadoras. Os militares deram incentivos fiscais e crédito facilitado para grandes latifundiários, que para se estabelecer nessas terras, mataram e continuam matando. Seja como Colônia, Império, República a elite quer nos “ver pelas costas”.

Com isso, retomamos a pergunta: o que comemoramos nas datas elegidas pela elite? NADA!

Aos de baixo, relembramos os que lutaram bravamente e o que nos resta é LUTAR! Só haverá comemoração quando for pelas vitórias dos de baixo!!!

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