Contra o Discurso do Opressor: Encher de Solidariedade as lutas dos De Baixo em Piquetes, Greves e Ocupações!

Opinião Anarquista Especifista sobre a última greve das/dos Rodoviárias e Rodoviários de Cuiabá e Várzea Grandecaderno_social

A passagem de ônibus aumentou no começo do ano, de forma criminosa e ilegítima. De lá para cá, a máfia do transporte faturou muito com esse aumento; de lá para cá, nada dos lucros desse aumento foi destinado aos salários dos trabalhadores, pois esses salários não tiveram aumento.

    Um discurso burguês, muito propagado pelos dominantes (empresários e demais grupos a eles aliados), tem construído uma versão de que a greve dos motoristas serviria como justificativa para um novo aumento da tarifa de ônibus. Mas, não haveria justificativa, pois a passagem já foi aumentada e os empresários não tiveram nenhum gasto além do normal – além disso, o último aumento foi considerado ilegal pelo Ministério Público, porém, pouco combatido pelos movimentos sociais.

    O último aumento teve aplicação dos lucros na construção de pontos de ônibus, em postos de recargas de cartões transporte, na melhoria da frota, na melhoria das condições de trabalho das/os trabalhadoras/es? Como bem vemos, NÃO! Então, a greve não pode ser justificativa, porque um novo aumento é injustificável, nunca foi justificável!

    Para além da peleguice da direção sindical, para além das tentativas dos patrões de usar o movimento de greve, as/os trabalhadoras/es do transporte têm o direito e necessidade de lutar por um salário mais justo, por condições de trabalho mais justas e, até mesmo, reivindicar redução da jornada de trabalho, pois muitos realizam jornadas estafantes. Se 100% dos trabalhadores pararam, fazendo até piquetes contra alguns poucos que tentaram furar a greve da sua própria categoria, é porque a reivindicação é deles de alguma forma. Ou alguém acha que é impossível que parte da categoria tenha consciência do processo e saiba avaliar a conjuntura, mesmo que de maneira simplista?

    A luta das/os trabalhadoras/es precisa ser estimulada, provocada a cada momento, seja por meio de solidariedade (que é muito além de palavras escritas) ou por meio de demonstração de apoio em seus piquetes nas garagens, porta de fábricas e outros demais locais de trabalho. Historicamente, os anarquistas fizeram tal papel. É lógico que a realidade social em que estamos inseridos nos coloca em debilidade para uma melhor articulação, movimentação, solidariedade prática – ombro a ombro, nunca como vanguarda ou direção iluminada.

A Judicialização e a Criminalização dos que Lutam

            Nos últimos anos, diante de qualquer luta que se trave de forma mais combativa ou radicalizada, as primeiras ações tomadas por setores conservadores, legalistas ou, propriamente, reacionários são: Criminalização e Judicialização!

Enfrentamos isso na luta travada pelas/os trabalhadoras/es da educação na greve em 2013, assim como outras categorias do funcionalismo público enfrentaram e vêm enfrentando nos últimos períodos de luta – talvez um reflexo das leis de segurança e “permanência” da Ordem para o Progresso das diretivas ideológicas do Estado, que foram aprimoradas e impostas com a vinda da Copa do Mundo e com os jogos Olímpicos que estão por vir.

            A categoria conseguiu o reajuste salarial de 11,12% para os motoristas e 10% para aqueles que trabalham em outras funções dentro do sistema de transporte, o pagamento será fracionado. E algo que é importante ter como avaliação: mesmo sendo alguns reais a mais no bolso desses trabalhadores, dentro da lógica capitalista em que estamos inseridos, pequenas frações de dinheiro no bolso do trabalhador precarizado e pobre é um aumento que, de alguma forma, melhorará – mesmo que irrisoriamente – alguma necessidade dentro da sua casa (família).

Os dias de greve, com 100% da frota parada, geraram ao sindicato uma multa de R$60 mil reais, R$30 mil reais por dia de paralisação. Determinação judicial para pagamento de multa e até mesmo pedido de prisão para a direção sindical e demais envolvidos na organização da greve, isso é uma greve de Patrão? Isso nos soa como prática para tentar manter, ainda mais, arredios a luta sindical/trabalhista, trabalhadores que ainda tentam ousar lutar e ousar se organizar como categoria, como classe oprimida. Eis o que parece uma das facetas da ideologia propagada pelo modelo toyotista (neoliberal) – uma caminhada para políticas e práticas que colocam o fim da organização dos trabalhadores, dos sindicatos de categorias, fragmentando até colocar o fim dessa construção histórica; sindicatos que constituem uma ferramenta de luta inicializada por anarquistas que ao Brasil vieram e aqui se formaram anarquistas.

            Ter como pensamento que, aproximadamente, 2000 trabalhadoras/es do ramo de transporte não possuem consciência da sua realidade diária de trabalho é uma apropriação perigosa e, até mesmo, podendo ser, reacionária, sobre a luta dos de baixo. Quem é oprimido sente na carne sua condição econômica e social, mesmo muitos tomando o discurso de um dia também poder ser opressor – subindo de classe e não mais ser um oprimido e precarizado. Compreendemos as mais variadas complicações de prática, organização e tomadas de decisão que são executadas pela direção sindical – as mesmas complicações são existentes nos sindicatos tidos como os mais “combativos” pelo Brasil a fora.

            Acreditamos, como Anarquistas, que o papel da Solidariedade de Classe deve ser construído a todo momento, pois tal sentimento historicamente vem sendo destruído pelos que detêm o controle e poder do topo da estrutura social, do Estado. É necessário caminhar pela reafirmação e pela reconstrução, e até mesmo construção, da Força do Povo; é necessário difundir cada dia mais que a transformação se dará com e pelos De Baixo. Caminhando com passos firmes, sinceros e combativos no rumo do Poder Popular.

Nunca compactuando com o discurso do Opressor!

Sempre nos solidarizando com as lutas Das/os de Baixo!

Rusga Libertária – MT

Organização Integrante da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)

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