No dia 23 de agosto de 1927, Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti eram executados pelo Estado opressor e assassino dos Estados Unidos da América. A execução ocorrera sete anos após a prisão, sete anos de torturas e injustiças. Imigrantes italianos, os dois se conheceram nos círculos anarquistas ítalo-americanos, dedicando-se à luta por melhores salários e condições dignas de trabalho. Sacco e Vanzetti atuavam com afinco, participando de greves, manifestações, comícios; razão pela qual logo tiveram seus nomes inseridos nas fichas policiais. Em 20 de maio de 1920, os dois são presos pouco antes de um comício anarquista; a acusação era de que teriam assaltado uma empresa na região de Boston, bem como assassinado dois homens da mesma empresa. O Estado montou, então, um processo criminal absurdo e sem provas, mantendo a acusação mesmo quando um outro preso confessara a autoria dos assassinatos. Os sete anos de prisão também foram marcados por uma intensa campanha em defesa da libertação de Sacco e Vanzetti. Contudo, o Estado foi implacável e usou a condenação como punição e “exemplo” para os demais trabalhadores do país. Um processo tão frágil juridicamente apenas mostrou o real motivo da perseguição, como o próprio Vanzetti declarou em carta ao filho de Sacco: se nos executarmos será “porque éramos pelos pobres e contra a exploração e opressão do homem”, por ser Anarquista.
O assassinato de Sacco e Vanzetti nos remete a um outro processo forjado para liquidar anarquistas no Estados Unidos, a execução dos mártires de Chicago. Como apontava Lucy Parsons, o Estado, “”a imprensa capitalista”, o “púlpito”, a polícia, um júri lotado, e “juízes preconceituosos” agiram conjuntamente para executar líderes anarquistas de Chicago” (citado em Quem é Lucy Parsons, de Casey Willams). Também nesse caso, foi montado todo um processo sem provas concretas para culminar em assassinato judicial. Assim como esses exemplos, muitos outros marcaram a história de diversos anarquistas pelo mundo. O Estado sempre criou esses casos como formas de aniquilar nossa ideologia e instaurar o medo, tratando anarquistas como terroristas, impondo uma visão que serve para a manutenção do estado de exploração e desigualdades.
Para além da história de luta e coragem, rememorar Sacco e Vanzetti, nesse 23 de agosto de 2015, 88 anos depois, nos leva a uma reflexão sobre nosso próprio tempo. Ainda vivenciamos uma série de perseguições e caça a anarquistas. São inúmeras as prisões e perseguições a anarquistas pelo mundo; pela estrutura judiciária do Estado, esses presos nunca serão compreendidos como presos políticos, cabendo a nós mostrarmos e defendermos essa perspectiva. Ainda hoje, enfrentamos uma forte criminalização do anarquismo, criminalização que se dá por parte do Estado, da direita e, inclusive, por certa parcela da própria esquerda.
No Brasil, desde 2013, o anarquismo voltou a ser posto em foco. A caça e a criminalização dos Black Bloc passaram pela avaliação de serem vistos como anarquistas. As jornadas de junho / julho, as mobilizações durante a Copa, as diversas greves mais combativas e as movimentações nas favelas, reabriram uma velha ferida silenciada e escondida pelo Estado; a de que o Estado tem por princípio a caça, a perseguição e a repressão de qualquer embrião de levante ou ameaça à sua estrutura. Não foram à toa as invasões às sedes anarquistas, a criminalização pela mídia, as prisões. A reformulação do Plano de Segurança Nacional, apontando manifestantes como terroristas, e o projeto de lei que busca proibir o fechamento de vias públicas por protestos marcam, mais uma vez, a posição do Estado como opressão e repressão. Representam um sério risco para o travamento da luta, além maiores dificuldades de organização e mobilização. Não temos dúvidas de que tais leis abrirão brechas para, novamente, prenderem e acusarem anarquistas como terroristas.
Se somos taxados de sonhadores, românticos, utópicos, pessoas que acreditam em algo que não pode ser colocado em prática, por que nos caçam tanto? Por que tantas perseguições, tanto alarde por conta de qualquer movimento dos anarquistas? Para nós, só podemos responder que o Estado compreende que questionamos e ameaçamos sua estrutura, que queremos a destruição do Estado e do sistema que explora. Mais do que isso, compreendem que sobrevivemos ao tempo, mesmo sendo perseguidos, presos, assassinados; compreendem que nos organizamos e veem que temos força para a luta e que nossa luta é, realmente, com os de baixo.
Sacco e Vanzetti representam a força e a coragem anarquistas; e sua história mostra como o Estado age, significando uma aprendizagem para nós anarquistas ainda hoje. Que essa história esteja sempre viva e seja as sementes de nossa coragem e garra para a luta!
Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, Presentes Presentes Presentes!
Se siente, se escucha, arriba los que luchan!