A Rusga Libertária é uma organização política anarquista que tem como objetivo maior a construção de uma sociedade socialista e libertária. Acreditamos que é a população oprimida e explorada (trabalhadores, estudantes, desempregados) organizada que será capaz de transformar a sociedade. Sobre os princípios de ação direta, democracia direta, federalismo, internacionalismo, classismo e ética libertária que a nossa organização surge no início do ano de 2006, fruto de um longo processo de discussão e reflexão entre os anarquistas cuiabanos que têm a intenção de retomar o anarquismo social e militante que tanto impulsionou a luta do povo oprimido no passado. No início do século XX o anarquismo conquistou grande força no movimento operário brasileiro e influenciava o pensamento e a organização dos trabalhadores do período. A perseguição política violenta aos militantes e o sindicalismo pelego reduziram a presença dos anarquistas e de suas propostas nas organizações dos trabalhadores. No entanto, as desilusões com o modelo de socialismo autoritário soviético e a crítica a democracia burguesa deram novo fôlego às idéias anarquistas, sendo que no final da década de 60 estas voltaram a influenciar alguns setores da sociedade.
No Brasil, já a alguns anos, os anarquistas vem consolidando experiências de inserção social e sentem a necessidade de se organizar. Nesse contexto hoje estamos participando do FAO (Fórum do Anarquismo Organizado), uma instancia nacional que busca construir uma organização anarquista com a participação de grupos de todo o país.
Uma organização nacional é necessária por que a nossa luta se dá dentro de uma conjuntura nacional. Dentro do país sofremos com os mesmos problemas econômicos, sociais e políticos: a miséria, a violência, o desemprego, a falta de participação e a desigualdade. O governo Lula, dito de “esquerda”, implementou uma política de recessão e corte de gastos, seguindo as imposições dos organismos financeiros internacionais, que só piora a situação do país, a população fica cada vez mais pobre e os banqueiros com lucros cada vez maiores.
A grande maioria das entidades que tradicionalmente mobilizavam os trabalhadores e estudantes para lutar por melhoria de vida não estão mais nas ruas e não são mais instrumentos de luta. Os movimentos sociais que acreditaram que o governo iria solucionar os problemas acabaram se desmobilizando e foram cooptados pelo poder institucional. As estruturas centralistas destes movimentos dificultam a participação direta dos trabalhadores nas decisões, gerando um distanciamento entre os trabalhadores e seus “representantes”. Para que possamos transformar a nossa sociedade é preciso movimentos fortes que sejam capazes de mobilizar estudantes, trabalhadores, desempregados. Reivindicamos os movimentos sociais autônomos e combativos que façam resistência ao projeto da classe dominante e construam alternativas populares.
Na história do país muitos trabalhadores se levantaram contra as injustiças, lutaram e morreram, defendendo a sua terra, fugindo da escravidão, formando quilombos, organizando movimentos reivindicatórios e de revolta. Em Cuiabá, temos o exemplo da rusga. A Rusga foi um movimento, que ocorreu em Cuiabá (no século XIX) organizado contra os privilégios dos comerciantes portugueses. Apesar de não propor transformações radicais nas estruturas econômicas e políticas, foi uma revolta popular que saiu do controle das lideranças liberais, que haviam se aproveitado do movimento para subir ao poder.
Nas últimas décadas, Mato Grosso recebeu um grande fluxo populacional de migrantes de outras regiões do país, fruto de uma política de colonização que teve como efeito o extermínio de muitas sociedades indígenas e a expulsão de posseiros.
O nosso estado é marcada pelo contraste da riqueza dos grandes latifundiários e da miséria do povo, a economia caracterizada pela monocultura mecanizada (soja e algodão) exclui os pequenos camponeses expulsos de suas terras pela violência e pela lógica perversa do mercado. Apesar desta dura realidade, atualmente vemos alguns movimentos se levantarem para lutar por uma vida mais digna. Os trabalhadores rurais querem terra e buscam condições de sobreviver no campo, nas periferias das cidades as pessoas reivindicam melhorias nos serviços, infra-estrutura dos bairros e buscam alternativas de renda.
Queremos uma outra rusga, uma Rusga Libertária que através da mobilização da população e movimentos fortes e combativos, construam uma alternativa de poder popular que forme uma sociedade mais justa e fraterna.